Um dia, eu dizia, neste
jornal, que precisávamos dignificar a vida de nossos heróis olímpicos, para que
tivéssemos a oportunidade de saber mais sobre os fatos da história do nosso
esporte e com isso poder entender o verdadeiro significado da palavra vitória,
pois nossos atletas treinam em condições difíceis e, em muitas vezes, nem
condições dignas têm, mas mesmo assim conquistam as vitórias que enchem de
orgulho o povo brasileiro.
Uma das coisas que mais me entristeceu foi a morte
de Ayrton Senna da Silva, tricampeão
de Fórmula-1, herói das manhãs de domingo, que, graças ao esporte que lhe
garantiu um futuro financeiro estável, não sentiu na pele o que é ser um atleta
sem estrutura. Em 1999, perdíamos João Carlos de Oliveira ''o João do pulo'',
tricampeão do mundo no salto triplo, que, graças ao Exército e à carreira
política, conseguiu superar, em parte, a fatalidade que o destino lhe reservou
por ocasião do acidente automobilístico que teve como conseqüência uma perna amputada.
No ano passado, também perdemos um dos grandes nomes na natação: Romulo
Arantes, que estudou nos EUA e se tornou ator; o velho e querido Barbosa,
goleiro do Vasco da Gama e da seleção brasileira de 1950, um dos atletas mais
elegantes da sua época; e no começo do ano o esporte perde Adhemar Ferreira da
Silva, bicampeão olímpico, que com seus saltos conquistou o mundo e as
olimpíadas de Helsinki, em 1952, e de Melbourne, na Austrália, em 1956, onde se
tornaria o Da Silva. Adhemar, que participou de quatro olimpíadas, sentia muito
a falta de consciência das pessoas no Brasil. Ficou um pouco magoado pelo fato
de ser mais reconhecido fora do seu próprio país, contudo ele começou a
perceber que a mídia não tinha a força que tem hoje.
Como é que podemos acreditar
num Brasil como esse, no qual as diferenças sociais estão por toda parte, onde
nossos heróis surgem sem um planejamento para suas vidas? É claro que o
treinamento é importante. Mas e o futuro? Será que um atleta que treina com o
objetivo de competir em uma olimpíada não merece ter uma vida digna depois da
sua vida esportiva?
E quanto ao seu papel na sociedade, junto às categorias de
base? Isso é sempre um assunto com o qual devemos nos preocupar, para que se
tenha a certeza de que os nossos atletas olímpicos, no futuro, sejam tratados
como verdadeiros heróis e com mais respeito. Esta é uma homenagem aos nossos
amigos que partiram para estarem ao lado do Pai para sempre, onde, com certeza,
estarão com outros que tanto dedicaram ao treinamento anos de suas vidas e que
em vida não foram valorizados pelo que fizeram; os que sempre se esforçavam
para alcançar as vitórias, para que pudéssemos testemunhar seus feitos e
sentirmos orgulho de sermos brasileiros. E em meu coração, todas as vezes que a
bandeira do Brasil é hasteada e o hino tocado, a lembrança deles sempre
aparece. É a batida compassada do velho relógio ''o coração'' que nos leva de
encontro de nosso destino. Portanto esta é a minha homenagem aos amigos que se
foram e que, com certeza, agora torcem para que as coisas possam ser melhores
para os que aqui ficaram. Que Deus possa dar um lugar especial a esses nossos
heróis.
Um
forte abraço do amigo Robson Caetano.