Domingão de emoção



Outro dia, assistindo ao programa Domingão do Faustão, recordei uma participação minha, que foi ao ar há alguns anos, onde fiquei muito emocionado. Fausto Silva e família são amigos meus, de minha mulher e de meus filhos há muitos anos. Amigos de maçaneta – como se diz na gíria. Daqueles que metem a mão na porta e vão entrando, sem precisar pedir licença... Na ocasião, pensei que era mais uma participação minha num programa de televisão e que o assunto a tratar fosse a Copa do Mundo. Estava certo de que o papo era futebol. Em momento algum pude imaginar que seria personagem do quadro “Arquivo Confidencial”. Da surpresa fui à emoção. Emoção. Confesso que há muito tempo não sentia. A presença, embora em gravação, de alguns de meus amigos fraternos e familiares me fez ficar engasgado. Engolir em seco. Quase chorar. As palavras de meu irmão Edu, lá do Japão, do “velho” Raul Plassman, do Júlio César “Uri Gehler” me tocaram profundamente. E as de meu filho mais velho, Júnior, também. O Celso Garcia, o Dida, meus carinhosos irmãos Tunico e Nando, e tantos outros que mandaram os recados deles me deixaram, sinceramente, com o coração apertado. Pequenininho.

 Zezé, minha queridíssima irmã, não pode ir. Teve compromisso inadiável. Mas eu bem sei o que ela diria pra mim naquele momento. Como o pequeno Thiaguinho, meu filhote. Estava nos bastidores com os olhinhos compridos fechados no pai... Como estavam também por trás das câmeras – e eu soube depois, claro, minha doce mulher Sandra e meu filho “cantante” Bruno. Só no sapatinho. Brunão, me contaram no final do programa, se tocou profundamente com a minha emoção no ar – e chorou muito. Grande filho. Por causa das lágrimas quase não conseguiu cantar com o grupo dele, o “Só no sapatinho”. Mas enxugou as lágrimas, deu a volta por cima – e deu um show. E Dona Matilde? A matriarca dos Antunes Coimbra foi demais. As palavras dela, dizendo que sou “um bom filho, um bom irmão, um bom marido e um bom pai” balançaram o meu coreto. Mãe é Mãe – tem direito a dizer o que quer... E disse mais. Entregou-me, se quiserem saber. Disse que eu mamei no peito dela até os sete anos de idade. E muitas vezes em pé.Tudo verdade, verdadeira.

Mas precisava me entregar, mãe? Deixei pro final meu parceiro Júnior. Extraordinário jogador, companheiro, amigo de hoje, de sempre e de velhas e memoráveis jornadas no Flamengo e na seleção brasileira. Foi ele quem, naquele programa do Faustão, me fez respirar um pouco, sair daquela emoção incontida. O velho "Capacete” relembrou uma história que reproduzo aqui neste “espaço”, pedindo permissão pra tal... Corria o ano de 83. Foi meu último campeonato brasileiro pelo Flamengo. Fomos campeões. Depois fui jogar na Udinese, da Itália. Mas, num jogo contra o Sampaio Corrêa, no Maracanã, nosso time estava deitando e rolando. Ganhamos de 5 a 1. O placar ainda estava 4 a 1 -  e eu queria fazer o meu. Afinal, já tinha colaborado com alguns dos quatro.

Dominei uma bola na intermediária dos maranhenses e parti pra área. Driblei um zagueiro e quando o goleiro saiu foi driblado também. Estava entrando no gol com a bola até aparecer o Baltazar, “Artilheiro de Deus” – lembram dele? –, chutando minha perna, bola e tudo pra dentro do gol. O juiz perguntou pra mim: – Quem fez o gol? E eu, irritado com o Baltazar, respondi: – Dá gol dele... No vestiário, "soltei os bichos” pra cima do Baltazar, coitado. Depois pedi desculpas ao “Artilheiro de Deus”. Mas naquela hora... E, segundo disse o Júnior, lá no Faustão, foi uma das poucas vezes que ele me viu perder a linha. Foi mesmo, parceiro.

Fui...
Zico