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PEDALANDO PELO MARROCOS – Novembro 1998

Inshalah, ou Allah esteja contigo, amigo leitor.
Começo hoje a contar-te a nossa pedalada pelo Marrocos, que realizamos no ano de 1418. Calma, não há nada de extraordinário nisso; é que o calendário islâmico começa com a saída do profeta Maomé de Meca para Medina, e os árabes contam os dias pela Lua, e no final das contas, 1418 equivale em nosso calendário gregoriano a l997. Pois é: contemplando a Lua, estávamos eu e minha mulher em Mhamid quando começaram a chegar os outros ciclistas e o nosso guia para a reunião em que faríamos os planos para a pedalada. Havia uma certa expectativa entre todos; afinal, sair de bicicleta por um país desconhecido para a maioria de nós, e por algumas estradas ermas, mexe um pouco com os nervos. Para tranquilizar-nos, o nosso guia, um canadense radicado em Marrakesh, avisou-nos que teríamos sempre a acompanhar-nos os Land Rovers de apoio. De qualquer forma, recomendou-nos andar sempre em grupo, evitando que as ciclistas ficassem sozinhas. 

Recomendação inútil, porque cada um tem seu próprio ritmo, estávamos sempre dispersos, e só nos reuníamos no final de cada etapa. Mas, na verdade, o Marrocos é um país deslumbrante e tranquilo, onde são profundamente respeitados os preceitos islâmicas de "tolerância e moderação”.
E assim partíamos por uma estrada de terra e cascalho ao longo das margens do rio Draa, passando por palmeiras típicas de oásis e por vários Kasbahs, que são fortalezas rurais e que serviram de defesa para os marroquinos contra vários invasores. Observamos, em nosso caminho, vários dutos para conduzir água das montanhas Atlas para as regiões desérticas. Não esqueçamos que o deserto do Sahara domina quase todo o território. Mais adiante, passamos pelas torres do Ksar de Tamnougalt, naquela que foi a região mais importante das tribos bérberes. Aliás, os bérberes são uma gente muito bonita, que vive nas montanhas e representam 40% da população marroquina. Os bérberes descendem dos antigos numides, e entre suas tribos está a dos famosos tuaregues, que povoaram a imaginação de tantos diretores de Hollywood.
E assim chegamos a Zagora, uma pequena e misteriosa cidade, onde conhecemos um cultíssimo historiador marroquino e um leilão de burros.
No próximo número eu conto. Inshalah!