BREVE HISTÓRIA DO CINEMA MUNDIAL


Capítulo 1 – Estados Unidos da América – Parte 9

OS GRANDES FILMES NORTE-AMERICANOS DA DÉCADA DE 1940

Em 1940, temos oito destaques: – As vinhas da ira (John Ford): baseado em um romance de John Steinbeck, mostra a história de uma família de camponeses pobres que é forçada a abandonar suas terras, no solo seco do Meio-Oeste, e sua dura viagem para os vales da Califórnia, em busca de trabalho, durante a Depressão nos EUA. Um retrato dos problemas sociais ocasionados naquele período difícil, como tão bem soube expor Steinbeck em seus romances; – Rebecca, a mulher inesquecível (Alfred Hitchcock): primeiro filme americano de Hitchcock. Bela produção do romance gótico de Daphne du Maurier. Garota tímida se casa com um nobre britânico, dono de enorme mansão e passa a ser atormentada pela cruel e sinistra governanta, que cultua a memória da primeira esposa de seu patrão, Rebecca. Oscar de filme e fotografia; – O turbulento (The bank dick): clássica comédia dirigida por Edward Cline, um especialista do burlesco, e com W. C. Fields como ator e roteirista (sob o pseudônimo de “Mahatma Kane Jeeves”).

Irresponsável e preguiçoso elemento consegue, acidentalmente, interromper um assalto e capturar o ladrão. É contratado como guarda de um banco e tira um proveito nada elogiável disso; – Núpcias de escândalo (George Cukor): comédia amalucada, baseada em peça da Broadway escrita por Philip Barry, sobre as atribulações de uma socialite (Katharine Hepburn) que, após separar-se do marido beberrão (Cary Grant), está disposta a casar-se com um puritano. Tudo se complica quando o ex-marido reaparece junto com um repórter falastrão (James Stewart) e uma fotógrafa (Ruth Hussey). A brilhante atuação de Stewart em seu inusitado papel levou-o a conquistar o Oscar de melhor ator. Filme teve uma versão musical em 1956: Alta sociedade, com Grace Kelly em sua última atuação; – Orgulho e preconceito (Robert Z. Leonard): comédia de costumes em notável, inteligente e fiel adaptação da obra-prima homônima da romancista inglesa Jane Austen (1775-1817), publicada em 1813, que conta a história de cinco irmãs à procura de marido, na sociedade provinciana dos anos 1800. Excelente elenco, com destaque para Laurence Olivier, no papel do janota mr. Darcy, e Greer Garson como a espirituosa Elizabeth Bennett. Um dos roteiristas foi Aldous Huxley, o célebre escritor inglês, autor de O admirável mundo novo, de 1932.

No ano de 1940, tivemos, também, duas grandes realizações dos Estúdios Disney, ambas sob a supervisão de produção de Ben Sharpsteen:

– Fantasia, agradável e criativa combinação de desenho animado e música erudita, um bom instrumento para levar as crianças ao conhecimento e gosto pela boa música. Trilha sonora com a Orquestra de Filadélfia, sob a regência de Leopold Stokowski;

– Pinóquio, baseado na célebre obra do escritor e jornalista italiano Carlo Callodi (1826-1890), As aventuras de Pinocchio, de 1880, uma fantasia pedagógica que mostra a transformação de um pequeno boneco de madeira em um menino de verdade e seus problemas com o aprendizado da vida. Obra-prima de animação que contribuiu para a popularização da cativante história e seus personagens: o “pai” Gepeto, o grilo falante, a raposa “João Honesto” etc. Na trilha sonora de belas canções, destaca-se When you wish upon a star, ganhadora do Oscar.

Outras boas produções do ano de 1940, que merecem ser vistas, foram: Jejum de amor (Howard Hawks); O grande ditador (Charles Chaplin); O galante aventureiro (William Wyler); Correspondente estrangeiro (Alfred Hitchcock); A marca do Zorro (Rouben Mamoulian); A carta (William Wyler); A longa viagem de volta (John Ford); Bandeirantes do Norte (King Vidor).

No ano de 1941, também tivemos grandes produções, com destaque para:
– Cidadão Kane (Orson Welles): extraordinário filme, baseado na carreira do magnata e jornalista William Randolph Hearst. Descrito por Welles como “o retrato da vida privada de um homem público”, o filme causou escândalo logo após o seu lançamento, em 1o de maio de 1941, devido às inúmeras semelhanças satíricas e maliciosas entre o protagonista do filme (Kane) e o milionário Hearst, proprietário de mais de 100 jornais nos EUA. Hearst tentou destruir o filme, chegando a oferecer mais de 800 mil dólares à RKO, para queimar os negativos. Além disso, ainda processou Welles. Nada adiantou; não conseguiu impedir a exibição de uma das melhores obras do cinema, que mostra, com sensibilidade e inteligência, a transformação do ambicioso cidadão “Charles Foster Kane”, desde o seu início como dono de um pequeno jornal, que adotaria uma linha editorial sensacionalista e seria o ponto de partida para a criação de um verdadeiro império jornalístico, com poder de influenciar a opinião pública. Com uma narrativa não linear, o filme começa mostrando a morte solitária do magnata em sua mansão. Sua última palavra é “rosebud”, mistério que posteriormente um repórter tenta investigar. Seria a evocação nostálgica de uma infância perdida? Rosebud (botão de rosa) era o nome do trenó em que Kane passeava quando criança.

Ironicamente, “rosebud” era o eufemismo que Hearst utilizava, carinhosamente, para se referir ao sexo de sua amante... O filme teve nove indicações para o Oscar, mas só levou o de melhor roteiro. Em 1970, a Academia de Hollywood quis reparar o erro, oferecendo um Oscar honorífico a Welles, pelo conjunto de sua obra, mas o cineasta recusou-se a ir à cerimônia, ressaltando a incongruência de tal medida.










Nelson Barbosa