Eu gosto de viajar. Mas, viajar o que é? Um encontro ou uma fuga?
Alguns viajam em busca de si mesmos; outros,
para escapar dos problemas.
Lembro-me que, muito jovem, eu gostava de botar
uma mochila nas costas e sair por aí. Buscando realidades, talvez... Buscando
sonhos, certamente.
Dormia em qualquer lugar, qualquer albergue me
servia. Amizades de circunstância
pareciam-me eternas. Idiomas desconhecidos eram transformados em expressões e
gestos. Compreensão total.
Quando era um idioma familiar, eu pouco falava.
Gostava mesmo era de ouvir. Ouvir histórias, ouvir relatos, ouvir realidades que me pareciam
lendas.
Depois, me casei com Malena, que também gosta de
viajar, até mais do que eu. E começamos a viajar de bicicleta por todo lugar: Europa, África,
América.
Para alguns lugares, levávamos nossas bikes;
para outros, juntávamo-nos a grupos de ciclistas que nos alugavam as
"magrelas".
Aprendemos que nessas viagens não se leva muita
coisa. E, em vez de mala, o melhor é colocar as roupas num alforje.
Em uma desses pedaladas, tivemos como guia um
ciclista de São Paulo, chamado Paulo de Tarso, o Paulinho.
Tornamo-nos amigos, e com ele percorremos o
sertão do Cariri, furando pneus nos espinhos do xiquexique e comendo carne de
bode. Inesquecível.
Com Paulinho, pedalamos também do norte da
Espanha a Fátima, em Portugal. Como o caminho era confuso, perdemo-nos várias vezes, o que
aumentou o percurso em 150 quilômetros.
Como se não bastasse, também nos perdemos nos
Pirineus. Mas o fato é que Paulinho evoluiu, tornou-se um profissional
competente e tem hoje uma firma especializada em cicloturismo e competições
ciclísticas.
Coerente com sua vida cigana, nunca se casou.
Como ele mesmo diz "que mulher aceitaria se casar com um cara que vive
pelo mundo e quase não para em casa"?
Estou contando tudo isso porque Malena e eu
vamos agora pedalar com ele, de Oranienburg, na Alemanha, a Copenhagen, na
Dinamarca.
Tirando algumas pequenas travessias em ferryboat,
o resto é "pau no burro", ou melhor, "pau na bike".
Na volta, eu conto.