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Um vizinho cineasta


O cineasta e documentarista Sérgio Bernardes me recebeu num domingo, contente por estar em casa com a família, cercado pelos muitos animais que vivem no jardim... Dois dias antes, estivera trabalhando na “cinzenta” Londres.
Sérgio Bernardes mora há muitos anos em Vargem Grande. Conhece muita gente da terra e é um apaixonado pelo bairro e pela natureza da região. Foi também por isso que a comunidade recebeu com alegria a notícia de que ele havia terminado de fazer o filme VIA BRASIL, projeto no qual vinha trabalhando há alguns anos.
Com sua costumeira elegância, Sérgio fez questão de apresentar o documentário aos vizinhos e moradores da região e acabou promovendo uma sessão especial, na sede da Associação de Moradores e Amigos de Vargem Grande. Foi um impacto, pois o filme é belíssimo! Ficou todo mundo de boca aberta, diante das imagens espetaculares que foram vistas!
Filho do lendário arquiteto e urbanista, de quem herdou o nome e o talento, Sérgio fez um monumental e apaixonado retrato cinematográfico do nosso país.
VIA BRASIL “é uma expedição que percorreu durante quatro anos as cinco regiões do Brasil: Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste e Sul”. E custou U$ 2 milhões. Segundo a apresentação do trabalho, lá “estão as imagens e os sons que não representam, mas sugerem, a construção e a destinação de um país, que é imenso e solar. Interpretá-lo é liberdade de cada espectador”.
O filme não tem diálogos. De pouquíssimas palavras, apresenta, segundo seu diretor, uma geometria diferente.
A idéia do documentário VIA BRASIL surgiu na Alemanha, durante uma mostra de documentários, na qual Sérgio apresentava um outro trabalho seu, que foi visto pelo embaixador Sérgio Amaral (atual representante do país na Inglaterra). Na época, ele era o titular da Secretaria de Comunicação da Presidência (Secom).
O embaixador ficou muito impressionado com a capacidade do cineasta Sérgio Bernardes. De tal maneira, que se propôs a colaborar na viabilização de um projeto de captação de recursos que possibilitasse a realização de um grande documentário sobre o Brasil.
Então Sérgio idealizou o filme. A idéia foi fazer um registro, não só bem-feito, tecnicamente falando, mas também apaixonado. Um trabalho que apresentasse, com sensibilidade, particularidades de um Brasil ainda, incrivelmente, muito mal conhecido. De sua exuberância natural. Suas riquezas e belezas. Seus povos, influências e costumes.
Daí, o projeto foi aprovado e decolou.
Foi organizado um pool de empresas que se cotizaram e patrocinaram o empreendimento. Mas o que determinou a realização dessa grande aventura cinematográfica foi, certamente, a obstinação e o talento do diretor e sua pequena equipe de trabalho.
Sua realização foi uma epopéia e poder-se-ia escrever um livro sobre a produção e a logística desse projeto. As circunstâncias, ao longo desses anos de trabalho, foram dramaticamente alteradas, diversas vezes.
Foram dezenas de viagens e incursões pelos mais diversos cenários brasileiros. Mais de mil horas de registro.
Segundo Sérgio, ficaram impressões maravilhosas desse país continental, além da certeza de que o brasileiro pode, deve, levantar sua abalada auto-estima e lutar para impedir a continuidade do processo de miserabilidade do povo e de suas tradições.

Dani Beer