GLOBELEZA VIRTUAL
Quando a Valeria me disse, há uns seis meses, que estava esperando o nosso segundo filho – o José Gabriel –, uma das minhas primeiras reações, sabendo que ela havia renovado o contrato com a Globo uma semana antes, foi: E a vinheta da Globeleza? Depois de apresentá-la grávida no carnaval 2003, ficou claro que para 2004 tinha de ser criado outro conceito. Mas eu estava num impasse sério: como reviver a Valeria com aquela silhueta que todos conhecem. A inspiração veio na mesma madrugada: pulei da cama às 3h30min, com as imagens nítidas na cabeça e corri para o terraço para agradecer ao Cristo Redentor por esta idéia: produzir a Valeria virtual. Por intermédio do craque de minha equipe, o Pit, conheci a produtora Seagulls Fly, do Rio, seu diretor Flavio Mac, o Chavo, e seu diretor de animação, o Fernando Reule, gênios absolutos. (Confira em seagullsfly.art.br, onde você também pode ver o making of dessa vinheta revolucionária).
Foi também o Pit que descobriu o estúdio House of Move, de Los Angeles, que detém o know-how para digitalizar o movimento do corpo da Valeria, onde já se captou também a dança de Michael Jackson e cenas para o filme Titanic.
E, quando surgiu o convite para a Valeria ser tema do carnaval de Los Angeles (vide: Tipo Carioca de outubro 2003), o projeto tornou-se viável, já que poderíamos combinar o útil ao agradável.
É uma tecnologia bastante complexa. Foram 45 pontos luminosos no corpo da Valeria – todo coberto por uma roupa de mergulhadora de neopreno preto –, gravando sua coreografia com 24 câmeras colocadas ao seu redor. Mas isso seria a parte mais fácil. Transformar esse esqueleto virtual dançante resultante dessa sessão em um corpo oco de aço polido, até virar o inconfundível corpo da Valéria sambando, foi uma tarefa que exigiu mais de sessenta dias, com 12 horas de dedicação integral, em média. Entraram fotos de outros carnavais, a modelagem em 3D através da deformação de polígonos (Studio Max), o sistema Motion Capture para recriar os movimentos da Valeria, seguido de iluminação e texturização, e a pintura de circuitos integrados, idealizados pela Sylvia Trenker, responsável por todas as pinturas da Globeleza, desde o começo. Fora recursos como High Dynamic Range (na reprodução de reflexos metálicos), renderizados com um software chamado “BRAZIL” (mais uma dessas coincidências incríveis da minha vida) e programas de pós-produção (Combustion e After Effects). Em suma: uma selva de recursos. Mas valeu o esforço. São 40 segundos impactantes, e somente no último instante verifica-se que tudo foi gerado por computador: o rosto. Primeiro porque acredito que não há tecnologia que possa reproduzir a expressão de radiante alegria da Valéria, e segundo porque sem esse detalhe poder-se-ia duvidar de que seja a Valeria virtual.
Conseguimos imortalizar aquela silhueta e a dança, que desde o começo da década de 90 vem encantando mais de cem milhões de brasileiros a cada ano. Uma “escultura” contemporânea, um registro perene de sua (Glo)beleza e chamada para a maior festa do mundo.