A Crise



Que há uma crise na Europa e nos Estados Unidos todo mundo sabe. Mas quais as verdadeiras razões? Tenho lido explicações de grandes economistas internacionais, que nem sempre coincidem em suas conclusões.

Alguns dizem que os estados da zona do euro, e também os norte-americanos, gastaram muito mais do que arrecadavam. Outros afirmam que o chamado “estado do bem-estar social” exagerou ao elevar o nível de seus cidadãos, e que a quebradeira era previsível.
Há quem diga também que a culpa é da China, com seus produtos baratos e sua moeda artificialmente desvalorizada. E agora, surpreendentemente, citam o Brasil como exemplo de seriedade a ser seguido.  Li no New York Times um artigo exaltando os fundamentos sólidos do nosso país. Incrível, não é? E pensar que há poucos anos a Europa estava pujante, e o Brasil, engolido por dívidas e inflação.

Eu, que não sou economista nem nada, mas tenho uma cabeça pensante e olhos que sabem ver, matuto aqui com meus botões: a verdade (difícil de reconhecer) é que nós trabalhamos muito, e os europeus, muito pouco.

Um dos países que costumo visitar é a Espanha, que atravessa dificuldades. Ora, o trabalhador espanhol começa seu ofício às nove, ao meio-dia sai para almoçar, depois tira a famosa “siesta” e só volta às dezesseis horas. A jornada termina às dezenove horas.
Assim é também na Itália. Na França não há esse costume, mas o país vive pressionado por greves em busca de melhores salários e menos horas de trabalho.

Enquanto isso, o trabalhador brasileiro sai de casa de madrugada, enfrenta um trânsito terrível, em péssimos transportes, e passa o dia trabalhando. E por tudo isso recebe minguados salários.

Alguém há de perguntar, e com toda a razão: e isso é justo?
Claro que não, o Brasil é desigual e injusto, todo mundo sabe. É preciso mudar muita coisa na saúde, na educação, nos salários, mas é preciso tomar cuidado para não dar um passo maior do que as pernas. Os gregos tentaram, e agora estamos vendo no que deu.

QUESTIONAMENTOS

Disse um escritor argentino, em entrevista a um jornal brasileiro, que a literatura é uma arte sóbria. O que se deduz de suas palavras é que o livro não pode ser tratado como a música popular (esta, sim, sempre direcionada ao mercado artístico, sempre badalada).
O livro deveria ficar num canto da livraria, à espera do leitor. O tal escriba argentino não vê sentido na busca das grandes editoras por best-sellers.

Também discorda de certos escritores que vivem a dar palpite em tudo, e se comportam como pop stars. Não considera literatura as obras de autoajuda, e despreza o esoterismo banal. Não nego que o cara me fez refletir sobre o assunto. Talvez, por me dedicar à música e à literatura.

Como compositor, jamais consegui fugir à pressão das gravadoras, mas é compreensível, pois elas gastam muito dinheiro com músicos, estúdio, produtores e arranjadores. Todo disco (se é que isto ainda existe) precisa de, pelo menos, duas músicas fortes; caso contrário, o negócio encalha.

Quem não quiser se submeter a certas exigências das gravadoras, é melhor partir para o disco independente.Como escritor, sempre me senti mais livre, mas já ouvi editores sugerirem aumentar ou diminuir o número de páginas, que acabam por determinar o preço do livro. E é obvio que o escritor, ávido por ver sua obra publicada e distribuída, cede.
Mas os responsáveis por transformar a literatura em artefato mercantil foram os editores norte-americanos. Eles dão generosos adiantamentos aos autores, e depois se sentem com direito a dar palpites na história.

Segundo alguns críticos americanos, o importante agora não é escrever bem, mas escrever muito. É por isso que os best-sellers têm sempre muitas páginas. Ironizam esses mesmos críticos, dizendo que são livros para serem vendidos e não lidos.
Será que é isso mesmo? Ou será que o tal escritor argentino anda ressentido por não vender tanto como seus colegas norte-americanos?

Eu não sei, só sei que o livro não é mais aquela coisa sacrossanta de outrora.
Alguma dúvida? Então, caro leitor, veja a lista dos mais vendidos.