“DE
REPENTE 60 (ou 2x30)
(Regina de Castro Pompeu)
Ao completar sessenta anos, lembrei-me do filme 'De repente 30',
em que a adolescente, em seu aniversário, ansiosa por chegar logo à idade
adulta, formula um desejo e se vê repentinamente com trinta anos, sem saber o
que aconteceu nesse intervalo.
Meu sentimento é semelhante ao dela: perplexidade.
Pergunto a mim mesma: onde foram parar todos esses anos? Ainda sou
aquela menina assustada que entrou pela primeira vez na escola, aquela filha
desesperada pela perda precoce da mãe; ainda sou aquela professorinha ingênua
que enfrentou sua primeira turma, aquela virgem sonhadora que entrou na igreja,
vestida de branco, para um casamento que durou tão pouco! Ainda sou aquela mãe
aflita com a primeira febre do filho, que hoje tem mais de trinta anos. Acho
que é por isso que engordei; para caber tanta gente, é preciso espaço!
Passei célere pela tal crise dos trinta, pois estava ocupada
demais lutando pela sobrevivência.
Os quarenta foram festejados com um baile, enquanto eu ansiava
pela aposentadoria na carreira do magistério, que aconteceu quatro anos depois.
Os cinquenta me encontraram construindo uma nova vida, numa nova
cidade, num novo posto de trabalho.
Agora, aos sessenta, me pergunto onde está a velhinha que eu
esperava ser nesta idade e onde se escondeu a jovem que me olhava do espelho
todas as manhãs.".
Li
parte do texto escrito pela Regina e imaginei ver que quase todas as mulheres
contemporâneas dela passaram pela mesma história de vida. E lembrei que li, há
muitos anos, um poema onde a autora afirma que, quando ela olhava no espelho,
via uma menina que saía de dentro de uma sexagenária mulher, mas que conservava
o mesmo espírito jovial e infantil que
sempre fora.