DEBATES
Pela segunda vez, este ano, estive em Belém do Pará. Fui convidado
para a Feira Pan-Amazônica do Livro. Além de relançar no norte meu livro “O Homem que Venceu Getulio
Vargas”, fiz uma longa palestra sobre minhas atividades como compositor e escritor.
Em primeiro lugar, quero registrar que aquela feira literária
primou pela organização, superando mesmo as bienais de São Paulo e do Rio de
Janeiro. Em segundo, que o interesse das pessoas pelo trabalho dos artistas é
inigualável. Foi o que constatei quando, ao término de minha palestra,
coloquei-me à disposição do público para perguntas e críticas.
Claro que logo vieram as perguntas sobre a carreira musical, sobre
as motivações para compor e os prováveis caminhos da MPB. Mas os melhores
momentos decorreram das questões sobre o direito do escritor de reescrever a
História segundo sua própria visão.
Lembro-me que um historiador fez algumas críticas ao meu livro,
dizendo que faltou uma certa fidelidade aos fatos. No entanto, no curso dos
debates, constatei que havia um fundo ideológico nas idéias do historiador.
Na verdade, quem queria mudar a História era ele, e não eu.
Felizmente, em meu apoio, veio um escritor paraense, José Maria Abreu, que
afirmou que em nenhum momento adulterei a História, apenas dei movimento e
dinâmica aos personagens, para fugir à rigidez das obras biográficas.
E foi exatamente essa a minha preocupação ao contar o embate no
Pará entre os seguidores de Getúlio e os do governador Eurico Valle, na
Revolução de 1930.
De qualquer forma, fica uma certeza: política é uma coisa
complicada. A gente escreve sobre acontecimentos antigos, pensa que já se
extinguiram, e, de repente, é tudo trazido para o presente, como se nada
houvesse mudado.
Como num passe de mágica, alguém transforma Getúlio em Lula, vê
reacionarismo na oposição ao populismo e quer fazer da literatura um mero
escrito panfletário.
Com toda sinceridade, se literatura fosse apenas isso, eu não
escreveria nada. Seria melhor o silêncio.