PALAVRAS DA CÚPULA
Este momento de comoção nacional devido à tragédia acontecida em Santa Maria (RS), onde mais de 230 jovens perderam a vida, ceifada, em parte, por culpa da incúria de autoridades que deveriam fiscalizar e enquadrar casas de espetáculos, colocando-as dentro dos padrões de segurança necessários, leva-nos a refletir sobre em que tipo de país estamos vivendo.
Tem-se a impressão que tudo é oriundo de um efeito cascata, um acúmulo de procedimentos alheios a qualquer lógica, que vêm deteriorando o caráter e a cultura de nosso povo.
O tão propalado “jeitinho brasileiro”, que nada mais é do que uma corrupção disfarçada, faz-se presente nos mais diversos ramos de atividade, incentivado sobremodo pela cúpula de uma oligarquia malfeitora, que se mantém indene, apesar das fortes evidências de crimes que pesam contra ela.
O povo, acuado, sofrido, intensamente tributado, desesperançado, não vislumbra uma saída desse calamitoso estado de coisas, agravado cada vez mais, e muitos até sentem inveja dos eternos poderosos, que tudo fazem e tudo podem.
É o país do “jeitinho”, do “toma lá, dá cá”, do “vamos providenciar”, do “estamos providenciando”, do “isto não deve acontecer de novo”, da falaciloquência, das inverdades das promessas de campanha, da falta de decência, enfim, do “me engana, que eu gosto”, propiciadores de uma impressão horrendamente multifacetada da realidade nacional.
E, assim, a decadência inexorável é uma questão de tempo. Nossos valores morais e espirituais vão sendo minados gradativamente, tendo como exemplo o que acontece nas altas esferas do poder.
Rui Barbosa, do alto de sua sapiência, já dizia:
“De tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça. De tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto.”.
Sábias palavras... E esse grande brasileiro candidatou-se duas vezes ao cargo de Presidente da República: nas eleições de 1910, contra Hermes da Fonseca; e em 1919, contra Epitácio Pessoa. Entretanto, foi derrotado em ambas. Uma de suas notáveis frases é “Maior que a tristeza de não haver vencido é a vergonha de não ter lutado”.