Nilton Nunes: Homenagem a um mineiro do Recreio



Quando cheguei à Globo, há 30 anos, o Nilton já tinha 10 anos de casa. Agora, após 40 anos de dedicação, ele está nos deixando para fazer somente o que lhe der na telha, lá no Recreio. Isso não quer dizer que deixaremos de nos ver com freqüência, porque nossa amizade, nossa afinidade vão continuar. Minha dívida para com o Nilton é tamanha, que não sei o que teria sido de mim, sem ele.

O meu irmão Harald um ano mais velho  era o sujeito calmo, equilibrado entre nós dois lá na Áustria, quando éramos crianças  e eu mais irrequieto, afoito. Com a bola, ele era um Beckenbauer e eu um Gilmar no gol (era leve e voava...). Ele foi estudar engenharia e eu virei esquiador profissional, enquanto estudava design. Ou vice-versa.
Como vocês podem imaginar, chegando aqui com 27 anos, sem experiência internacional alguma, muito menos saber português, o ritmo carioca das coisas (ou a falta dele) me levava facilmente à beira de ataques. Aqueles cenários de aberturas que estavam superatrasados e com data de estréia marcada... (e vontade de jogar tudo pro alto, quebrar uma cadeira contra a parede...). Chegava o Nilton: Calma Hans, tudo vai dar certo. Era meu irmão, um pouco mais maduro, serenando a situação.

Ora, no campo profissional: assim como nunca escondi que a Sylvia  minha ex-mulher, eterna amiga íntima e colaboradora, que desenhou todas aquelas roupas incríveis para as aberturas do Fantástico e as pinturas para a Valeria é a mulher número 1 entre as artistas gráficas, da mesma forma afirmo que o Nilton é um entre cinco dos maiores gênios da videografia no mundo.

Quantos trabalhos não fizemos juntos a toque de caixa. A foto ao lado como que simboliza o nosso amor fraterno, duas cabeças que, às vezes em uma noite, geravam um sucesso a quatro mãos que entrava nas mentes, nos corações, nas emoções de milhões. 

As realizações que tivemos oportunidade de saborear juntos, aqui, em Portugal (SIC) e em Roma (TV Monte Carlo), nunca serão esquecidas.

Pois é, Nilton, meu anjo da guarda, meu irmão: sem ti, muita coisa não teria saído tão perfeita. Muito obrigado por tudo e que Deus te abençoe.

Hans Donner