Noite dessas, acordei cheio de sede, pulei da cama e fui beber
água na cozinha. Ainda não se anunciava a madrugada, mas eu perdera o sono, e
fiquei no jardim em meio a pensamentos.
Não sei por que lembrei-me do Zé Prequeté, àquela altura ainda jovem,
que tinha o hábito de sair à noite pelas ruas de Nova Friburgo. Diziam que o
Prequeté não dormia, que mais parecia um fantasma a errar pelos cantos daquela
pacata cidade.
Florisberto do Despacho, um negro alto e magro, macumbeiro muito
popular na região, espalhou que Zé Prequeté era um demônio disfarçado de
humano, responsável pelas enchentes que frequentemente atormentavam a
cidade. E o pior é que o Prequeté tinha
mania de mergulhar no rio Bengala quando começava a chover. Tanto repetiu o
macumbeiro a sua história, que a parte mais humilde da população acreditou.
A partir daí, começaram a perseguir o Zé. Toda vez que chovia
forte ia um bando lá pro lado da casa dele, a fim de não o deixar sair de casa.
As ameaças eram tantas que o chefe de polícia, precatadamente,
mandava prender o Prequeté tão logo nuvens ameaçadoras cobrissem o céu. Claro
que a intenção era protegê-lo da turma.
Bastava as nuvens se dissiparem, e ele era solto.
Alheio a tudo, o nosso fantasmagórico personagem continuava suas
andanças noturnas.
Foi então que eu e minha turma, todos muito jovens, resolvemos
passar a noite acordados e seguir o Prequeté, para ver aonde ele ia.
Tomamos todos os cuidados para não sermos vistos, e lá fomos nós.
Inicialmente o cara passou pela Matriz, deu as costas para a igreja, e seguiu
em direção ao cemitério, que ficava num ponto ermo do vilarejo.
Até aquele momento, tudo conforme o que diziam. Já estávamos
arrepiados quando então demos pela coisa: atrás do cemitério ficava a “zona”,
maloca de mulheres da vida, onde o Prequeté encontrava-se com Das Dores, jovem
prostituta com quem veio a ter um filho.
Naquele momento, ficamos sabendo que Zé Prequeté de fantasma não
tinha nada.