Na última vez que estive em Roma, e não faz muito tempo, mas foi
bem antes da anunciada renúncia do Papa, ouvi muitos comentários sobre os
problemas do Vaticano. Até mesmo na embaixada do Brasil, onde trabalha um amigo meu,
adido militar, havia rumores sobre a incompetência dos auxiliares do Sumo
Pontífice. Problemas de toda a ordem, sobretudo morais e financeiros.
Curioso que sou, comprei um livro (Sua Santità) que expunha os
mais secretos papéis de Benedetto XVI. Este livro deu o que falar na Itália, pois parece que foi o
próprio secretario particular do Papa que passou (ou vendeu?) as informações
sigilosas ao escritor e jornalista Gianluigi Nuzzi. Lendo este livro, conclui-se que é muito difícil ser ao mesmo
tempo chefe de estado e líder espiritual. Se é demais para um jovem, imaginem
como deve ser para um homem em provecta idade.
Fechei o livro e fui caminhar pela cidade do Vaticano. A pequena cidade estava repleta de turistas e religiosos, como
sempre. Detive-me olhando, disfarçadamente, os rostos dos padres e freiras
que ali estavam. Pensei na decepção daquela gente, que dedicou a vida a seu Deus e
à Igreja Romana, com os escândalos provocados por seus superiores
eclesiásticos.
Imagine a desilusão dessas pessoas, que fizeram votos de castidade
e pobreza, com a vida promíscua e amoral de certos cardeais e bispos. Eu, que acredito em Deus, mas não sou católico, lamentei e lamento
a dissolução moral de uma instituição que deveria ser exemplar para toda a
humanidade. Mas, felizmente, não são todos. A maioria dos padres vive uma vida
digna e de acordo com seus votos. Uma curiosidade: de acordo com o Código de Direito Canônico, que
tenho em minha casa, é possível, por razões elevadíssimas, a renúncia de um
Papa. Mas é coisa raríssima.
Penso no sofrimento de Ratzinger ao renunciar ao trono papal.