Há cerca de trinta anos, o jornalista Armando Nogueira, dando asas
à sua paixão pela aviação, criou o Clube Esportivo de Ultraleve (CEU), próximo
do Aeroporto de Jacarepaguá e do Clube da Aeronáutica.
No inicio, operavam no “sítio de voo”, aquelas engenhocas
construídas com tubos e panos, cujos voos não ultrapassavam os limites da Barra
e do Recreio dos Bandeirantes. Com o tempo, a coisa foi se sofisticando, e apareceram
equipamentos semelhantes aos aviões monomotores que permitiam viagens por todo
o país.
Eu mesmo fiz um voo até o Rio São Francisco, lá para o lado de
Paulo Afonso, enfrentando, em alguns trechos, chuva e turbulência. Um companheiro meu ousou voar até Fernando de Noronha. Claro que
esses modernos ultraleves exigiam, para manter sua confiabilidade, boas
oficinas e mecânicos competentes. E a consequência foi a instalação no CEU de três oficinas que
empregaram muita gente. Outros empregos foram criados para manobrar as aeronaves nos
hangares, bem como para controladores de voo.
Escolas de pilotagem surgiram e, recentemente, até para
helicópteros. O clube foi reconhecido em todo o meio aeronáutico como um exemplo
a ser seguido. E o que faz a prefeitura agora? Simplesmente, por causa dos Jogos
Olímpicos, que não duram mais do que um mês, expulsa o clube de sua área sem
lhe oferecer outro lugar compatível para se instalar.
Fazem o mesmo que fizeram com o Autódromo. E para onde irão as
mais de cem aeronaves sediadas no clube? O Aeroporto de Jacarepaguá está saturado, não há lugar para mais nada.
E não há outro lugar nas cercanias. E
por acaso a prefeitura se preocupa com isso? Claro que não. Quer que todos saiam a toque de caixa, para que ela, depois dos
Jogos, negocie a cobiçada área com a construção civil.
E, com essa e outras atitudes semelhantes, a Barra e o Recreio vão
se desfigurando. Perdendo suas reservas e seus logradouros. O poder público passa como um rolo compressor sobre as conquistas
e propriedades dos cidadãos.
São os “tempos modernos”, em que só o dinheiro conta.
Paulo Sergio Valle