PROJETOS DE PAISAGISMO

Você que já passeou pelo Campo de Santana ou pelo Aterro do Flamengo? Já se perguntou como tudo aquilo foi criado? Conhece os autores desses dois projetos fenomenais de paisagismo urbano? Já imaginou quantas questões estão envolvidas na criação e concepção de parques no meio do caos urbano? E ainda tendo que pensar num futuro com crescimento acelerado da população? Não? 


Pois dois gênios do paisagismo pensaram. E criaram dois espaços inigualáveis na paisagem carioca. Estamos falando de Auguste Glaziou e Roberto Burle Marx, criadores do Campo de Santana e do Aterro do Flamengo, respectivamente. Falar desses dois importantes nomes para o paisagismo carioca e mundial é assunto para mais duas colunas, uma para cada um. Por isso vou iniciar essa trilogia deixando bem referenciados e reverenciados esses dois gênios, para falar dos fatores inerentes à criação de um projeto tão grandioso como os citados. Vamos a eles?

Poderia começar separando esses fatores em sociais e naturais. Os sociais por se referirem à idade populacional, ao poder aquisitivo dessa população e à situação cultural. Ou seja, é preciso identificar os anseios dos frequentadores do jardim. “Para quem” e  “porquê” devem ser sempre empregados, antes de se começar um projeto de paisagismo. No caso de um projeto público, a idade populacional – jovens, crianças e idosos –, os diferentes graus de cultura e os vários anseios (que são conflitantes) devem ser contemplados ao mesmo tempo, sem que um desses fatores se sobreponha ao outro. Resumindo, é preciso harmonia e equilíbrio em cada detalhe e acesso, caminho, escolha de planta, textura, área de sombra, brinquedos, bancos, tudo. 

No que tange aos fatores naturais, mais uma série de considerações, em função do clima do local, do relevo, do solo, da água, dos monumentos naturais e da vegetação nativa. Mais uma vez, tudo interagindo de forma concomitante e indissociável. Por exemplo, o relevo. O traçado, as linhas do projeto estão intimamente ligadas a ele. Um fator natural que pode ser limitante é o solo. As plantas irão depender, e muito, dele. Por vários motivos, desde a sua fertilidade natural até mesmo suas características físicas, como boa drenagem e classe textural.
O clima influenciará diretamente na disposição das espécies vegetais. Luz plena e sombra são bons exemplos para situarem essa condição. Isso para não falar de temperatura, regime hídrico etc.

A vegetação no entorno dita a condição de equilíbrio ecológico, e os monumentos naturais, tais como rochas, cavernas, grutas revelam a importância do lado histórico. Restou a água que deve ser sempre preservada e bem aproveitada em projetos dessa magnitude. Além disso, a água em um projeto de paisagismo pode remeter o observador à ideia de movimento ou placidez, dependendo da sua utilização.   

Percebeu que não falei de plantas? Pois é, as grandes estrelas parecem ficar em segundo plano, quando enunciamos tantos fatores interagindo de forma conjunta.
Entretanto, quem conhece os dois parques citados sabe que elas fazem toda a diferença. E são justamente essas escolhas, pautadas em todas as outras questões colocadas, que nos fazem, cada vez mais, admirarmos esses dois mestres do paisagismo mundial. Continuaremos com eles no próximo texto. Até lá.

Fabio Freitas