A AGUA É AZUL

Mas os interesses que a envolvem podem ser turvos. Ou vermelhos.

Recebemos de Deus a mais bela província do planeta Terra. Afinal, Deus é brasileiro, fato confirmado agora pelo papa. Deus é tão brasileiro que determinou que nossa linda região sul esteja pousada sobre o maior aquífero da Terra, o "aquífero Guarani". Justo nome, honrando a evoluída nação indígena que ocupou toda a região. De fato, os guaranis ocupavam toda área sobre o mar subterrâneo, incluindo mesmo o Paraguai e a Argentina.

Solano Lopez, então presidente vitalício do Paraguai pelos anos 1860 (difícil ter uma democracia na época), também tinha interesse nesta região. Queria todo o aquífero! E tudo o que estivesse entre o Paraguai e o Oceano Atlântico. Os interesses internacionais (incluindo a Inglaterra) fizeram com que a Argentina, o Brasil e mesmo o antigo aliado paraguaio, o Uruguai formassem a tríplice aliança, que respondeu com um exército superpoderoso. A guerra do Paraguai foi traumática, principalmente para os paraguaios, que perderam um moderno país, que na época alcançava a organização social e econômica de uma nação europeia. Praticamente toda sua população masculina foi dizimada.

Voltamos ao Brasil. Recebemos de Deus a bacia amazônica, a bacia do rio São Francisco, todas as bacias regionais, a malha capilar de rios e córregos do nordeste do Brasil. Os colonizadores portugueses, seguidos pelos emancipados brasileiros, dizimaram a mata atlântica que ornava toda a costa do Nordeste, modificando todo o seu clima. Foi um "efeito estufa regional" o Nordeste de hoje ser o "Nordeste das secas".
Os mesmos ocupadores de território, agora brasileiros, com a mesma mentalidade bulionista e depredadora, atuam hoje nas mencionadas bacias, desmatando, jogando mercúrio nos leitos dos rios, explorando madeiras nobres, fazendo um desastre ambiental atrás de outro. Um massacre ambiental ainda toma conta do Brasil. E as águas são as que mais recebem seu impacto.

A ocupação desordenada das margens dos rios, aliada a total falta de infraestrutura sanitária e consciência ecológica, contribui para a transformação de riachos em línguas negras, isso mesmo em áreas remotas. O brasileiro joga latas, garrafas pet, sacos plásticos e embalagens junto às suas fezes dentro de qualquer riacho. Uma postura que caracteriza nossa ocupação desde que os colonizadores retiraram, através de sucessivos genocídios, os indígenas que aqui viviam de forma ecológica e integrada.

Nossa falta de consciência com este legado natural das águas também induz a que empresas multinacionais e corporações acabem por privatizar nossas águas, para depois vendê-las a nos mesmos – os legítimos donos – pelo preço que o mercado ditar. Se observarmos bem, veremos que isso já está acontecendo. Na minha infância, qualquer um pedia um copo de água e este era servido gratuito. E agora, quanto custa um copinho ou garrafinha de água em uma loja de (in) conveniências?

No modelo de agronegócio, é patente a utilização de trilhões de metros cúbicos de água a cada período de estio. Já estão esgotando nosso lençol freático. E agora, muitos agricultores estão utilizando, sem nenhum tipo de taxa, mesmo ambiental, as águas do aquífero Guarani. Os canhões de água e outras geringonças apenas bombeiam nosso recurso natural, em nome da produção de grãos transgênicos batizados com agrotóxicos. Todos os venenos agrícolas voltam ao solo e contribuem, na chegada das chuvas, para que seu conteúdo mortal seja despejado nas águas que nós, brasileiros, acabaremos por consumir em nossos lares.
E não pense que estou sendo dramático. Basta que assista ao documentário Ouro Azul: A Guerra Mundial pela Água e entenderá um pouco mais do que estou falando. E o que é mais assustador é revelado ao fim do filme: a família Bush (dona de um império do "ouro negro" – o petróleo – no Texas) comprou uma área equivalente à da Bélgica, no vizinho Paraguai, para usar seu know-how e esvaziar o aquífero guarani.

Você acha que isto é uma violação à nossa soberania? Mas não é só isso. Os Bush, quando ainda no governo americano, trataram de fazer parceira com o Paraguai e já estão construindo uma base aérea americana em território paraguaio. Quais serão os vencedores de uma segunda guerra do Paraguai, uma guerra pela água, desta vez aliado a drones americanos? Será que eles, os americanos, ainda não aprenderam a lição?
Assim que, sendo eu mensageiro de Paz em tudo o que digo, peço ao leitor e aos brasileiros em geral: vamos cuidar de nossas águas, vamos pensar em novas formas de agricultura, vamos preservar nosso patrimônio cultural e ambiental. Vivam os rios, córregos e bacias de nosso Brasil. Viva nosso aquífero Guarani. Nossas águas são nosso patrimônio!

Dr.Alberto Peribanez,