BREVE HISTÓRIA DO CINEMA MUNDIAL

Capítulo 1 – Estados Unidos da América – Parte 12

OS GRANDES FILMES NORTE-AMERICANOS DA DÉCADA DE 1940 (continuação)

O ano de 1945 teve dois grandes destaques:
– Farrapo humano (Billy Wilder): um drama profundo sobre o alcoolismo e suas consequências. Excelente performance de Ray Milland no papel de um escritor que, dominado pelo vício, chega a ponto de penhorar sua máquina de escrever para comprar bebida e, também, roubar. Oscar de filme, diretor, ator (Milland) e roteiro; – Fomos os sacrificados (John Ford): dramático relato do heroísmo e tragédia de um esquadrão de “PT-boats” americano em sua luta contra os japoneses, nas Filipinas, logo após o ataque a Pearl Harbor; de dezembro de 1941 até abril de 1942. Baseado em fatos reais ocorridos com os tenentes John Bulkeley e Robert Kelly, depois premiados com a Medalha de Honra e a Cruz da Marinha, respectivamente. Outros bons filmes de 1945 que merecem ser vistos são: – O retrato de Dorian Gray (Albert Lewin); – Quando fala o coração (Alfred Hitchcock); – O túmulo vazio (Robert Wise); – Um punhado de bravos (Raoul Walsh); – Alma em suplício (Michael Curtiz); – Um passeio ao sol (Lewis Milestone).

Em 1946, Os melhores anos de nossas vidas, de William Wyler, clássico ganhador de sete Oscar, conta a história de três pracinhas que voltam ao lar após a II Guerra Mundial e suas tentativas de adaptar-se à vida civil. Comovente drama sobre os problemas decorrentes dos horrores da guerra. Harold Russel, que perdera realmente as mãos na guerra, tem uma participação extraordinária, lutando para superar sua deficiência física. Oscar de filme, diretor, ator (Fredric March), montagem, ator coadjuvante (Russel), roteiro e trilha sonora.

Entretanto, em 1946, tivemos grandes filmes, capazes de competir à altura com o ganhador do Oscar, como:  – A felicidade não se compra (Frank Capra): excelente fantasia do mestre Capra, considerada por ele como o seu melhor filme. Dentro do estilo capriano de que as boas ações e sentimentos são sempre dignos de recompensa, características já expostas em filmes anteriores, o diretor enfatiza o idealismo, o sacrifício pessoal em prol do coletivo, a inocência, o otimismo, a solidariedade, o heroísmo e a bondade, entre tantas outras virtudes do ser humano. George Bailey, um homem decente e bondoso (James Stewart), assume, após a morte de seu pai, o controle de uma empresa, angariando, em contrapartida, um cruel inimigo: o ambicioso e inescrupuloso banqueiro Potter (Lionel Barrymore). Enquanto o banqueiro explora os mais pobres, Bailey os ajuda. Ao se ver sufocado por problemas financeiros, talvez causados por sua própria generosidade, Bailey resolve suicidar-se, mas é salvo por um anjo (Henry Travers), que lhe mostra como o mundo seria se ele não tivesse existido e o encoraja a enfrentar os problemas; – Paixão dos fortes (John Ford): um dos grandes filmes do mestre do faroeste. Versão nostálgica da história do lendário xerife de Tombstone (Arizona), Wyatt Earp (Henry Fonda em sua melhor atuação no gênero) e do seu amigo Doc Holliday (Victor Mature) que, juntos, participam do famoso duelo com os bandidos da família Clanton, em OK Corral.

A canção do filme, My darling Clementine, tornou-se célebre. Em 1957, John Sturges também filmou a saga do xerife Earp em “Sem lei e sem alma” (Gunfight at the OK Corral), um bom espetáculo, com Burt Lancaster e Kirk Douglas nos principais papéis; – O destino bate à sua porta (Tay Garnett): clássico filme noir com Lana Turner no seu melhor papel. Baseado num romance de 1934 de James Mallahan Cain (1892-1977), especialista em histórias de suspense e violência – que reclamou das mudanças feitas no filme para adaptar-se às exigências da censura do Hays Office –, mostra o drama do casal de amantes (Lana Turner/John Garfield) que planeja a morte do marido traído (Cecil Kellaway). Em 1981, com a censura mais abrandada, foi feita uma versão mais explícita da história de Cain, com cenas de sexo e violência, tendo como protagonistas Jessica Lange e Jack Nicholson, sob a direção de Bob Rafelson, mas sem o mesmo vigor da original; – À beira do abismo (Howard Hawks): obra-prima para quem gosta de filme noir com trama complexa. Esplêndida adaptação de O sono eterno, primeiro romance policial de Raymond T. Chandler (1888-1959), criador do detetive Philip Marlowe, aqui interpretado por Humphrey Bogart.

Marlowe é procurado por misteriosa mulher (Lauren Bacall, casada com Bogart desde 1945) e sua irmã (Martha Vickers), que o contratam para esclarecer um caso, envolvendo-o em intricada trama, repleta de assassinatos e pistas complicadas. Embora presa ao puritanismo existente na época, a história tem lances de loucura, drogas, ninfomania e pornografia, abordados superficialmente. O filme contou com os três maiores roteiristas do período: Jules Furthman, Leigh Brackett e, até, William Faulkner, o grande escritor norte-americano ganhador do Prêmio Nobel de Literatura de 1949. Outros bons filmes de 1946 que podem ser vistos são: Interlúdio (Alfred Hitchcock); O pecado de Cluny Brown (Ernst Lubitsch); Virtude selvagem (Clarence Brown); Gilda (Charles Vidor).

Em 1947, tivemos alguns bons filmes, nada de excepcional. Entre os que merecem uma olhada, temos: Monsieur Verdoux (Charles Chaplin); Corpo e alma (Robert Rossen); Domínio dos bárbaros (John Ford); O justiceiro (Elia Kazan); Rancor (Edward Dmytryk); De ilusão também se vive (George Seaton).


Nelson Barboza