Capítulo 1 – Estados Unidos
da América – Parte 13
OS GRANDES FILMES
NORTE-AMERICANOS DA DÉCADA DE 1940 (parte final)
Em 1948, tivemos uma pequena melhora na produção
hollywoodiana, com destaque para três filmes:
– Odeio-te meu amor (Preston Sturges): obra-prima do
especialista da comédia, diretor de vários sucessos, como: As três noites de
Eva, Contrastes humanos, Papai por acaso, Herói de mentira.
Maestro (Rex Harrison), que acredita estar sendo enganado por sua mulher,
arquiteta sua vingança enquanto está regendo um concerto, imaginando os modos
de agir, que variam conforme os trechos da música;
– O tesouro de Sierra Madre (John Huston): bela adaptação
do romance de 1928 de Bruno Traven (1890-1969). Um estudo da natureza humana
diante da cobiça. Neste espetacular faroeste, Huston, mais uma vez, aborda a
temática do fracasso (Vide: Relíquia Macabra, 1941), que teria
continuidade com Resgate de Sangue (1949) e Segredo das joias
(1950): três homens ambiciosos vão a busca de ouro nas montanhas do México,
dispostos a fazer fortuna. Enfrentam muitos obstáculos juntos, mas, obcecados
pela cobiça, deixam vir à tona o que de pior existe em suas personalidades.
Neste filme, Huston ganhou dois Oscar (direção e roteiro) e dirigiu seu pai,
Walter Huston, que levou o Oscar de ator coadjuvante. Humphrey Bogart não
ganhou um Oscar, apesar de sua excelente atuação no papel do paranoico
Dobbs, uma de suas melhores interpretações;
– Rio Vermelho (Howard Hawks): mais uma grande obra de
Hawks, retratando aspectos do Velho Oeste. Após o término da guerra civil
americana, fazendeiro (John Wayne) mais seu filho adotivo (Montgomery Clift em
seu primeiro filme) e alguns ajudantes empreendem penosa viagem pelo
Missouri, conduzindo gado para venda no Norte, numa aventura cheia de
incidentes.
O ano de 1948 ainda teve
outros filmes de qualidade, como: Perdidos na tormenta (Fred
Zinnemann); A mundana (Billy Wilder); Paixões em fúria
(John Huston); Na cova das serpentes (Anatole Litvak); Sapatinhos
vermelhos (Michael Powell, Emeric Pressburger); Festim diabólico
(Alfred Hitchcock); Desfile de Páscoa (Charles Walters); A
dama de Shangai (Orson Welles); A força do mal (Abraham
Polonsky). E o ganhador do Oscar de 1948
foi um filme inglês: Hamlet, de Laurence Olivier...
Em 1949, seis filmes se
destacaram: – A grande ilusão (Robert Rossen): baseado no romance
de 1946 de Robert Penn Warren (1905-1989), ganhador do prêmio Pulitzer, mostra
a ascensão e queda de um político antes honesto (Broderick Crawford) e que é seduzido
e obcecado pelo poder a ponto de transformar-se num demagogo corrupto, seguindo
as artimanhas da política. Oscar de melhor filme, ator (Crawford) e atriz
coadjuvante (Mercedes McCambridge); – Um dia em Nova York
(Stanley Donen e Gene Kelly): primeiro sucesso de direção de Kelly e Donen,
precursor de outro grande êxito da dupla, o fabuloso Cantando na chuva
(1952). Comédia musical inovadora, foi a primeira do gênero filmada em locações
externas, uma espécie de “Dançando na rua”, tão ao gosto de Donen. Três marujos
(Gene Kelly, Frank Sinatra e Jules Munshin) desembarcam em uma manhã e, com
direito a 24 horas de folga, saem à procura de diversão e mulheres. Com belas
canções, o filme levou o Oscar de melhor trilha sonora.
Destaque para a canção New
York, New York, com exuberante atuação de Sinatra, Kelly e Munshin;
– Tarde
demais (The heiress, de William Wyler): baseado na obra Washington
Square, de 1881, do romancista inglês de origem norte-americana Henry James
(New York 1843-Londres 1916) e considerado por muitos como o melhor filme de
Wyler (muito feliz na adaptação do romance para a tela), mostra a história de
uma herdeira rica (Olivia de Havilland, que levou o Oscar pela interpretação) e
pouco atraente que fica apaixonada por um caçador de dotes inescrupuloso
(Montgomery Clift), contrariando os conselhos recebidos de seu pai (Ralph
Richardson). A história foi refilmada em 1997 pela diretora polonesa Agnieszka
Holland, sob o nome Washington Square, mas, como costuma acontecer com
os remakes, sem o mesmo brilho do filme original;
– Almas em
chamas (Henry King): grande espetáculo sobre a II Guerra
Mundial. Sucessor de comandante de um esquadrão de aviadores dos EUA na
Inglaterra que fora substituído após sofrer um colapso nervoso, jovem general
(Gregory Peck, em uma de suas melhores atuações) passa a sofrer problemas
emocionais semelhantes, oriundos das pressões inerentes ao cargo,
principalmente a angústia de enviar pilotos para missões arriscadas. Oscar de
melhor ator coadjuvante para Dean Jagger, como o ajudante de ordem do general;
– A costela de Adão (George Cukor): comédia que mostra, de
maneira sofisticada, a batalha dos sexos. Casados na vida real, Spencer Tracy e
Katharine Hepburn (em seu sexto filme juntos) vivem um casal de advogados (ela,
advogada de defesa; ele, promotor), no julgamento de um caso de assassinato em
que uma esposa atirou em marido errante; e a disputa começada na corte vai
continuar dentro do lar. A pedido de Hepburn, Cole Porter contribuiu com a
canção Farewell, Amanda;
– Quem é o infiel? (Joseph
Mankiewicz): filme ganhador do Oscar de melhor roteiro e direção, que evidencia
o talento de Mankiewicz, um dos mais cultos e inteligentes diretores de
Hollywood. A história é sobre as reações de três mulheres que recebem uma carta
sobre caso com um de seus maridos.
Outros filmes de 1949 com boa dose de
qualidade são: Legião invencível (John Ford); Punhos de
campeão (Robert Wise); A sedutora madame Bovary (Vincente
Minnelli); Fúria sanguinária (Raoul Walsh); Trágica decisão
(Sam Wood).
Nelson Barboza