Há vinte e cinco anos, logo que cheguei ao Brasil, fui contemplado
com a grande amizade. Eric O. Sigrist, um suíço radicado no Brasil e sócio numa
empresa de confecção de moedas comemorativas – A Ouro Preto Collections –,
apostando no meu talento e colocando em jogo a sua posição, designou-me para
desenvolver o visual da empresa. Naqueles tempos difíceis, os três mil dólares
recebidos foram equivalentes a uma fortuna. Só que o sócio dele, um americano,
não quis aceitar. Achava dinheiro demais para investir em design. Eric
insistiu: "Oferecemos às pessoas um artigo caro, diferenciado, e
precisamos ter uma identidade bem cuidada, também diferenciada, quando formos
vender o produto. Ou você aceita, ou saio da sociedade". Eric me acolheu nos momentos mais difíceis da
minha vida; foi um dos que me estenderam a mão.
Este mesmo homem trouxe, há
tempos atrás, um relógio Longine para que a
empresa que desenvolve o meu relógio na Europa fizesse alguns reparos. Um
objeto clássico, antigo, uma relíquia, que tinha, por acaso, a posição de
marcação de hora, minuto e segundo na mesma posição do relógio que eu havia
projetado para a minha coleção, o Time Dimension (um relógio diferente de
qualquer outro, que marca as horas através de discos, em vez de ponteiros).
Quando descobri isso, foi literalmente um momento mágico!
Logo em seguida, fui convidado a criar um comercial que é
veiculado no mundo inteiro, através da Fashion TV, numa campanha em que o
visual de um relógio de ponteiros se transforma no Time Dimension, onde o
passado dá lugar ao futuro.
Após a comemoração do lançamento da campanha com Eric, num bar
vizinho ao prédio da Globo, saí para apanhar o carro no estacionamento da
empresa, quando me dei conta que ele estava indo no sentido contrário ao de sua
casa. Percebi que ele fazia questão de me acompanhar. No momento em que chamei
a sua atenção para o fato, olhei para o alto e tive uma surpresa! Vi de um lado
uma palmeira, do outro um pinheiro e o Cristo no meio.
Essa é a história da minha vida – O Deus que me manda tantas
coisas boas, o pinheiro simbolizando a minha pátria – a Áustria –, e o Brasil,
representado por uma palmeira. Um cenário inacreditável: a estátua do Cristo
Redentor no meio da Áustria e do Brasil.
Esta situação tão especial estava presente em minha vida e eu nunca
havia percebido. Talvez eu caminhasse por esta mesma rua por mais uns cem anos,
sem conseguir perceber este maravilhoso detalhe.
Chegando no meu apartamento, na Lagoa, refletindo sobre os acontecimentos
do dia, fui para o terraço e olhei para os lados. Neste momento, percebi ao meu
redor a mesma combinação. São seis pares de pinheiros e palmeiras me rodeando,
formando um círculo protetor. Será que é uma coincidência? Eu acho espetacular!
Tudo isso que acontece comigo é tão incrível que tenho receio de
contar para as pessoas. Nos meus momentos de reflexão, questiono: Como Deus
ainda pode se preocupar com tantos detalhes? Como é maravilhoso ser prestigiado
com tanta energia e sensibilidade para perceber tudo isso. É realmente
incrível!