Breve História do Cinema Mundial

Capítulo 1 – Estados Unidos da América – Parte 1


Desde 1881, Thomas Alva Edison (1847-1931) já estava interessado nas dificuldades do registro e da reprodução do movimento. Como se sabe, a reconstituição do movimento é obtida pela projeção de fotografias sucessivas – diferentes umas das outras e separadas por intervalos – e é devida ao fenômeno da persistência retiniana, que nos permite continuar a perceber impressões luminosas mesmo depois de seu desaparecimento. Estudada por Isaac Newton desde o final do séc. XVII, sua duração é de 1/8 de segundo. Teoricamente, a projeção de oito imagens por segundo seria suficiente para que não aparecessem fases de obscuridade entre os fotogramas. 

Verificou-se, entretanto, que eram necessárias 16 imagens por segundo para evitar a cintilação na percepção do movimento. A sociedade Edison adotou esta velocidade no “Cinetoscópio”, que não era um projetor e sim um aparelho dotado de um visor para observação individual e que já utilizava uma película fotográfica, onde as imagens eram impressas em rápida sucessão (a velocidade passou para 24 imagens por segundo somente com o advento do cinema falado, devido à necessidade de assegurar a reprodução e a gama de frequências acústicas entre 30 e 10.000 hertz).
Empenhados em projetar os filmes de Edison, os irmãos Lumière construíram, em 1894, seu primeiro projetor e, em 13 de fevereiro de 1895, patentearam o “Cinematógrafo”, fazendo, em 28 de dezembro do mesmo ano, em Paris, a primeira exibição com entrada paga.

A primeira projeção de um filme em Nova York, entretanto, aconteceu em 1896, graças a um aparelho que a sociedade Edison patenteou, o “Vitascope”, que nada mais era do que o equivalente americano do “Cinematógrafo”.

Edison, para alguns, ficou conhecido como o inventor do cinema, mas a verdade é que WILLIAM DICKSON, um escocês que era seu assistente, construiu, em 1889, o “Cinetofonógrafo”, um projetor sincronizado com um disco, que usava filme de celuloide e tinha uma câmara, o “Cinetógrafo” e um visor, o “Cinetoscópio”. Inclusive Dickson construiu para Edison o primeiro estúdio de cinema do mundo, em 1892, o “Black Maria”. Mas o “patrão” (e quem patenteava tudo) era Edison...

Sendo considerado, na época, uma atração secundária, o cinema era restrito às pequenas casas de espetáculos, feiras e music-halls. Baseados em fragmentos de fatos ou situações cotidianas, não tinham enredo. Temas como Veneza e suas gôndolas, Ondas do mar, Pugilismo cômico e O bar foram anunciados, em 1896, como oitava atração de um music-hall.

Embora até mesmo Edison acreditasse que se tratava de algo passageiro, o interesse público cresceu rapidamente e o cinema foi se tornando um grande negócio, despertando o interesse de magnatas. Edison provoca, então, nos fins de 1907, a “Guerra das Patentes”, agrupando, em torno de si, oito das maiores produtoras americanas, a fim de monopolizar a produção (inclusive, faz contrato de exclusividade com Charles Eastman, o maior fabricante de fitas virgens da época).

O truste criado por Edison, que não hesitava em empregar a violência e a sabotagem contra os que a ele se opunham, retardou um pouco o desenvolvimento do cinema americano, voltado, então, para a venda de patentes dos aparelhos de filmagem e de projeção, em prejuízo da qualidade e produção dos filmes, que eram medíocres.

Produtores e exibidores independentes se unem contra as regras draconianas do truste de Edison, conseguem derrotá-lo e impor o Star System, uma das bases benéficas para o desenvolvimento, pois, até então, os atores e atrizes eram desconhecidos. Entre estes produtores, estavam: Carl Laemmle, Adolph Zukor, Marcus Loew e Samuel Goldwyn, fundadores de grandes produtoras como a Universal, a Paramount, a Loew Metro (atual Metro-Goldwyn-Mayer). Eram, quase todos, magnatas proprietários de diversas salas de cinema populares – calculadas, na época, em torno de 400 – nas quais, por um nickel (moeda de 5 cents) eram apresentadas atrações de meia hora. Eram as chamadas Nickelodeons.
Em 1912, William Fox, outro dos grandes exibidores, funda a Fox, que em 1935 iria fundir-se com a Twentieth Century, de Joseph M. Schenck e Darryl F. Zanuck, resultando na Twentieth Century-Fox.
Os independentes, com base em uma forte estrutura industrial, passam a conquistar, quase totalmente, o mercado doméstico e mundial.

Considerando que Nova York, Chicago e Boston eram cidades com sociedades inteiramente implantadas e fechadas, decidem sediar-se na promissora costa da Califórnia, em Hollywood (Bosque de Azevinhos), um bairro de Los Angeles, onde concentram a produção cinematográfica dos EUA e realizam os primeiros filmes longa-metragem com história. O local, originalmente chamado Hollywoodland, tinha este letreiro, que era para ser temporário, no topo do Beachwood Canyon; as letras L, A, N, D caíram por falta de manutenção nos anos 1940, e o nome Hollywood permanece até hoje.

Clima favorável (muito sol), produção ininterrupta, sistema de distribuição organizado (circuitos de cinemas), o know-how americano em negócios, filmes melhores e em mais quantidade logo levariam a supremacia da Europa para os EUA, apesar de países como a Alemanha, a França, a Grã-Bretanha e a Itália, entre outros, estarem aperfeiçoando suas próprias indústrias cinematográficas.

Era a sorte e a fortuna chegando para alguns como, por exemplo, para um certo húngaro chamado Zukor, antigo faxineiro e, depois, vendedor de peles de coelho; para um velho tintureiro, tornado clown, de nome Fox; ou para quatro consertadores de bicicletas, Jack, Harry, Albert e Samuel, os chamados Irmãos Warner...