Palavra da Cúpula
Embora não seja o objetivo de um jornal de bairro debater assuntos macroeconômicos, alguns aspectos que direta ou indiretamente nos afetam não podem deixar de ser pensados.
Um deles é a propalada carga tributária alta, que absorve cerca de quatro salários por ano dos trabalhadores. A questão é que, no Brasil, não se trabalha durante os doze meses: o empregado só comparece ao trabalho, de segunda a sexta-feira, no primeiro ano; no seguinte, já terá direito a férias, trabalhando, portanto, 365 dias menos 30, o que dá 335.
Temos 14 feriados nacionais por ano. Neste, 12 caem em dias úteis. Logo, 335-12=323.
Mas o ano tem 52 semanas, ou seja, 52 sábados e 52 domingos, o que dá 104 dias em casa. Fazendo-se a conta, 323-104=219 dias de trabalho efetivo, ou sete meses e nove dias, ou 7,3 meses.
Um empregado ganha 12 salários + 13º + um terço de férias, perfazendo o total de 13,33 salários. Este ano vai trabalhar 7,3 meses e receber 13,3. Seis a mais do efetivamente trabalhado.
A carga tributária, segundo amplamente difundido na mídia, leva cerca de quatro salários. Assim, há, digamos, “um lucro” de dois pagamentos mensais relativamente aos dias em que o trabalhador realmente esteve presente ao serviço.
Há, ainda, os feriados estaduais, as faltas abonadas por doença e os chamados “pontos facultativos” do serviço público.
O empresariado nacional, que só dispõe de mão de obra por sete meses em um ano e paga 13,3 salários + Vale Alimentação + Vale Transporte + INSS + FGTS, não tem outra opção senão elevar os preços dos seus produtos, como compensação, gerando, assim, a famigerada inflação, que afeta a vida de todos.
O produto nacional perde a competitividade perante outros mercados. Outros países, como a China, onde o custo da mão de obra é irrisório, invadem nossa economia, ofertando produtos mais baratos, de qualidade por vezes duvidosa, numa concorrência desleal, o que começa a afetar vários setores de nossa indústria, que, no futuro, poderão até ser extintos. Após exterminar a concorrência, a China poderá impor o preço que quiser aos seus xing lings em nosso país. Aí, será tarde demais para reerguer nossas fábricas. Já estará tudo dominado (e comprado) por eles.
Além das medidas protecionistas agora anunciadas, que não podem durar eternamente, o Governo Federal deveria diminuir seu apetite por impostos e estudar um meio de amenizar os elevados encargos que incidem sobre a nossa produção, para que tenhamos capacidade de concorrer com os produtos importados e, last but not least, debelar a inflação.