O montanhismo, uma das diversas modalidades de esportes
praticados em todo o mundo, engloba trilhas, travessias, acampamentos,
escaladas e outros. É um esporte que atende todas as idades, níveis
sociais diversos e atinge graduações de dificuldade diferente. É muito
agradável e saudável, mas, pelo seu próprio ambiente natural, envolve
riscos e outras probabilidades de perigo que devem ser controladas, além
de todo o respeito que se deve ter com a natureza, não degradando ou
deixando qualquer tipo de rastros, como pichações, lixos, nomes em
árvores etc.
Todo o estado do Rio de Janeiro é muito privilegiado, pois
existem muitas montanhas impressionantes favorecendo a prática dessas
atividades, como a Floresta da Tijuca, Pão de Açúcar, Parque Nacional da
Serra dos Órgãos, as praias selvagens em Barra de Guaratiba e muitos
outros lugares. Iniciar o contato com o montanhismo é simples, porém
muitos problemas têm se tornado frequentes, alertando a comunidade
experiente e dedicada a fornecer subsídios legais e honestos à cultura
da prática com atenção na segurança, visto que, no Rio, é comum pessoas
com pouquíssimas ou até mesmo nenhuma experiência montar grupos de
amigos completamente leigos e levá-los a lugares onde nem sempre o
acesso é simples, ou até mesmo colocando os integrantes do grupo em
situações de risco completamente desnecessárias, podendo acarretar
acidentes sérios, inclusive morte. Irresponsabilidades como estas são
percebidas praticamente todos os finais de semana na trilha da Pedra da
Gávea e em outros locais.
As pessoas que se responsabilizam como guias
devem ter total consciência sobre os integrantes do grupo, suas
limitações, cuidados, além de ter consigo, obrigatoriamente, um kit de
primeiros socorros. Antes de ir para a montanha, todos os guias e
participantes devem fazer um planejamento, como, por exemplo: ver a
previsão do tempo; ter uma noção da distância e tempo de duração
aproximado da trilha, incluindo ida e volta; se é necessário o auxílio
de corda; saber dar pelo menos o nó 8 duplo, caso seja necessário fixar
uma corda; ter na mochila sempre uma head lamp (lanterna de cabeça);
quantidade de água adequada; um bom lanche; um casaco ou anorak, se for
necessário; e, obrigatoriamente, todos os participantes devem estar
calçados, com, pelo menos, tênis. Chinelo e sandália não são apropriados
para trilhas e aumentam consideravelmente a possibilidade de uma torção
no tornozelo. As roupas usadas devem ser leves e confortáveis, como,
por exemplo, as utilizadas em academia â?? saias não são apropriadas
para a prática do montanhismo; apesar de óbvio, já vi, várias vezes,
mulheres utilizando saias em trilhas, inclusive em trechos onde é
necessário escalar em alguma parte.
É primordial que os grupos sejam
pequenos, respeitando a capacidade do local, e que nunca utilizem
atalhos, pois, ao criá-los, além de aumentar a probabilidade de se
perderem, degradam o meio ambiente. Um assunto polêmico: quando se
encontra um grupo completamente despreparado, em um trecho de uma trilha
em que é necessário o auxílio de corda para subir e descer, e onde este
grupo ficou esperando algum montanhista experiente passar com uma corda
para poder â??pegar uma caronaâ? (o que é comum na trilha da Pedra
Gávea), deve-se ajudá-lo a subir ou não? A esta resposta deve ser
adicionada uma pergunta: também o ajudaremos a descer? Se a pessoa
ajudar o grupo a subir e também se responsabilizar em ajudá-lo a descer,
é claro que se deve auxiliar; devemos ser solidários, não só na
montanha, mas sempre que for preciso! Mas, caso o montanhista experiente
não se responsabilize pela descida do grupo despreparado, é
aconselhável não ajudá-lo a subir e, ainda, recomendar que não insista
em subir sem corda, pois é comum, em casos assim, pessoas inexperientes
passarem a noite presas na montanha, com fome, sede e frio, por não
conseguir descer para o trecho onde receberam a ajuda.
Com isso, o
montanhista experiente pode até mesmo colocar este conjunto de pessoas
em risco, em vez de ajudá-lo. É importante lembrar, também, que a
escalada é um esporte â??radicalâ?, não é como uma simples trilha, que,
em muitas das vezes, é possível praticar sozinho. A escalada deve ser
iniciada e praticada com auxílio de pessoas altamente qualificadas e
experientes, que ensinarão, da maneira mais correta, todos os
procedimentos de segurança detalhadamente, além de indicar como se
comportar na montanha; estes devem ter instrução de autorresgate, ética e
educação ambiental. Devemos lembrar que as montanhas são as casas de
muitos animais, e todos eles merecem o nosso respeito, não devendo ser
incomodados com barulhos ou até mesmo em seus ninhos.
Os galhos de
árvores não devem ser utilizados como um apoio, pois a possibilidade de
eles arrebentarem é grande; isso, além de propiciar tombos, também é uma
espécie de degradação. Caso seja necessário utilizar alguma árvore
pequena como apoio, deve-se segurar próximo das raízes, onde é mais
forte e provavelmente não arrebentará. Vale lembrar, também, que um bom
guia planeja e faz de tudo para que o passeio seja bem-sucedido, mas, ao
mesmo tempo, deve estar preparado para que tudo dê errado. Uma opção
para se iniciar corretamente no montanhismo, principalmente para as
pessoas que não desfrutam de amigos com experiência nessa área, é
procurar um clube excursionista ou empresas sérias que operem com o
guiamento de trilhas e com instrução de escalada. Os clubes
excursionistas e empresas particulares têm bastante experiência no
montanhismo e são preparados para atender com segurança e
responsabilidade, além de ensinar também tudo que for preciso para o
iniciante começar da melhor maneira possível.
No Rio de Janeiro existem
vários clubes excursionistas dispostos a ajudar (CEL, CEC, CERJ,
Guanabara) e uma boa opção de empresa particular, que atua com o turismo
de aventura e instrução: a Kmon Adventure. Este artigo não foi
construído para monopolizar as montanhas e nem os montanhistas e, sim,
para passar informações importantes referente à segurança,
responsabilidade, planejamento e educação ambiental, além de ajudar a
qualificar os montanhistas.
Por Fábio Silveira, convidado por Sandro Cardoso.
Por Fábio Silveira, convidado por Sandro Cardoso.