À noite, tarde da noite, vejo a novela Gabriela, baseada na história de Jorge Amado, que retrata a vida de Ilhéus, na época em que os coronéis do cacau mandavam e decidiam as atividades da cidade e das pessoas. A lei era a palavra deles. O julgamento e a condenação ou absolvição também dependiam do que a cabeça caraminholada do coronel resolvia.
Às mulheres, nada era permitido, senão cumprir os deveres de esposa, com obediência cega. Sem perguntar razões, nem emitir qualquer pensamento que pusesse em cheque a determinação do homem.
Claro que, na história de Jorge Amado, tal qual na vida real, as traições rolavam entre os mais corajosos e afoitos. Quanto mais proibida, mais saborosa era a fruta do desejo.
Como uma cidade em crescimento, com grande giro de grana
provinda da venda do cacau, existiu um local onde os homens buscavam o prazer a
um bom preço. O que não faziam em casa, iam fazer no Bataclã.
Lá, era permitido à mulher fazer tudo que o coronel
quisesse. E coitada daquela que recusasse.
Numa noite, foi leiloada uma moça que viera do interior,
onde passava fome e, para ajudar a família com inúmeros irmãos, apelou para as
orgias do Bataclã. A menina foi arrematada por R$ 500 mil cruzeiros.
Hoje, corre na Web o leilão de um "hímen", o que
vai permitir que um ricaço deflore uma mulher, pagando tal qual faziam os
coronéis da Ilhéus de Jorge Amado. Isso nos deixa claro que pouco mudou nos
usos e costumes da humanidade. Em países de todas as origens e raças, o artigo
mulher ainda está na prateleira, para ser comprado, usado e dispensado.
Até quando?
Até quando?