BREVE HISTÓRIA DO CINEMA MUNDIAL
Capítulo 1 – Estados Unidos da América – Parte 11
OS GRANDES FILMES NORTE-AMERICANOS DA DÉCADA DE 1940 (continuação)
Em 1942, tivemos, além dos mencionados no capítulo anterior, A canção da vitória, de Michael Curtiz, superpatriótica e ufanista biografia de um teatrólogo norte-americano, com James Cagney em dinâmico desempenho como dançarino, ator e cantor, o que lhe valeu o Oscar do ano.
Outros bons filmes de 1942 foram: Ser ou não ser (Ernst Lubitsch), Bonita como nunca (William A. Seiter), Em cada coração um pecado (Sam Wood), Mulher de verdade (Preston Sturges), A incrível Suzana (Billy Wilder), Estranha passageira (Irving Rapper), A mulher do dia (George Stevens) e A sedução do Marrocos (David Butler).
Em 1943, não tivemos filmes excepcionais. Com os EUA envolvidos em sua mais dispendiosa guerra, no combate às forças do Eixo (aliança entre a Alemanha hitlerista e a Itália fascista) e seus aliados: Japão, Hungria, Bulgária e Romênia, os reflexos foram sentidos na produção cinematográfica. Tivemos alguns bons filmes, com destaque para:
– Consciências mortas (William Wellman): intenso drama sobre a violência das turbas do Velho Oeste. Após o assassinato de um fazendeiro, um bando toma as leis em suas próprias mãos e promove o linchamento de três forasteiros inocentes que haviam capturado, provocando protestos. Filme hoje considerado clássico, embora não tenha tido sucesso quando lançado; – A canção de Bernadette (Henry King): adaptação da biografia romanceada de mesmo nome, de 1941, do escritor austríaco Franz Werfel (1890-1945), sobre a camponesa francesa Bernadette Soubirous (1844-1879), que aos 14 anos, de 11 de fevereiro a 16 de julho de 1858, teve por 18 vezes a visão da Virgem (Imaculada Conceição) – o que deu origem às peregrinações a Lourdes (Fr) – e que foi canonizada em 1933. Filme longo, com 156 minutos de duração, realça, de modo sentimental, os poderes da fé. Ganhou quatro Oscar: atriz (Jennifer Jones), trilha sonora (Alfred Newman), fotografia (Arthur Miller) e direção de arte. Linda Darnell aparece como a Virgem Maria, mas não consta dos créditos do filme. Outros filmes de 1943 de boa qualidade são: Cinco covas no Egito (Billy Wilder), O diabo disse não (Ernst Lubitsch), Por quem os sinos dobram (Sam Wood) e A sombra de uma dúvida (Alfred Hitchcock). Passado o impacto inicial das consequências da II Guerra Mundial, a produção de bons filmes nos EUA começa a ter um incremento em 1944, com sete destaques: – O bom pastor (Leo McCarey): história sentimental de um jovem padre que é designado para a paróquia de um bairro pobre de Nova York e cujas ideias avançadas entram em choque com o conservadorismo ali existente.
Oscar de filme, diretor, ator (Bing Crosby), ator coadjuvante (Barry Fitzgerald) e canção (Swinging on a star); – Agora seremos felizes (Vincente Minnelli): sentimental, cativante e nostálgico musical que retrata as experiências de uma família, desde o verão de 1903 até a primavera de 1904, captando bem o clima da época. Belas canções na voz de Judy Garland, como: The trolley song e Have yourself a merry litttle Christmas. Margaret O’Brien (1938-), na época a mais popular estrela infantil dos EUA, encanta como Tootie, a irmã caçula de Garland, roubando a atenção do expectador em todas as cenas de que participa; – Papai por acaso (Preston Sturges): comédia do tempo em que não havia exame de DNA. Filmada em 1942, somente foi liberada pela censura em 1944. Betty Hutton é “Trudy Knockenloker”, que fica grávida e esquece com qual soldado se casou. Farsa atrevida que escarnece valores da sociedade americana na época da guerra; – Herói de mentira (Preston Sturges): fuzileiro naval é dispensado por problemas de saúde e se sente constrangido em comunicar o fato ao seu pai, velho herói da I Guerra. Seus amigos conseguem fazer a cidade em que nasceu acreditar que ele é um herói e ele é lançado como candidato à prefeitura. Outra sátira de Sturges passada durante a época da II Guerra; – Pacto de sangue (Billy Wilder): clássico do filme noir, baseado em um romance de James Mallahan Cain (1892-1977). Agente de seguros (Fred MacMurray), apaixonado por atraente e intrigante mulher (Barbara Stanwyck), concorda em ajudá-la a matar seu marido para poderem receber o dinheiro do seguro, mas a coisa se complica com a entrada em cena de um perito investigador (Edward G. Robinson).
Filme um pouco ousado para a época teve várias indicações para o Oscar; – A mocidade é assim mesmo (Clarence Brown): garota determinada (Elizabeth Taylor) resolve participar do grande prêmio equestre da Inglaterra, o famoso Grand National Steeplechase. Para tanto, se disfarça de menino, com a ajuda de um jóquei (Mickey Rooney) que lhe dá apoio e a auxilia no treinamento do seu cavalo. Com grande atuação de Taylor e Rooney, coadjuvados por um perfeito elenco, o filme tem uma corrida de cavalos que é considerada uma das melhores que o cinema já produziu. Oscar de melhor atriz coadjuvante para Anne Revere, que faz o papel da sofrida mãe da jovem amazona; – Laura (Otto Preminger): clássico inovador do gênero noir. Planejado, inicialmente, por Rouben Mamoulian, que se desentendeu com a FOX e foi substituído por Preminger, o filme ganhou o Oscar de melhor fotografia, embora merecesse, também, o de melhor trilha sonora, considerada, até hoje, uma das mais perfeitas. Fascinante história de mistério e desejo, sucesso de crítica e de público: Gene Tierney é Laura, uma mulher que teria sido morta. Cabe a um detetive obcecado (Dana Andrews) o esclarecimento do mistério. Tudo se passa no requintado mundo da alta sociedade nova-iorquina, que tem até um cínico e excêntrico colunista (Clifton Webb) e personagens ambíguos. Atuação soberba de Vincent Price e Dame Judith Anderson, como os suspeitos do crime. Outros bons filmes de 1944 que constituem um bom entretenimento são: – Um retrato de mulher (Fritz Lang); – O solar das almas perdidas (Lewis Allen); – Este mundo é um hospício (Frank Capra); – Um barco e nove destinos (Alfred Hitchcock); – Uma aventura na Martinica (Howard Hawks).
Nelson Barboza