ILUMINAÇÃO ESPIRITUAL



Algumas pessoas ficam contentes com a crença em um Deus personalizado, a obediência a certos rituais e a expectativa de uma salvação individual. Às vezes, o que sustenta a fé é a esperança, e este tipo de religiosidade corresponde a certo grau de evolução da alma humana. Por outro lado, existe a possibilidade de um significado muito mais amplo na experiência religiosa. Quando atingimos certa maturidade interior, deixamos de lado o apego a formas externas, rituais, crenças cegas e outras maneiras de não assumir responsabilidade total sobre nossas vidas. Largando as muletas, desistindo de fugir da verdade, descobrimos um significado imenso e transformador na experiência religiosa. Percebemos que a nossa grande meta na vida é encontrar a nossa própria essência no mundo espiritual, enquanto agimos o mais corretamente possível no mundo concreto.


É esse contato sem intermediários com a alma imortal que é conhecido como iluminação. De maneiras diferentes, mesmo tropeçando, todos nós caminhamos para ela. A iluminação espiritual é uma das necessidades mais profundas do ser humano.
O desapego é um dos caminhos da felicidade. A iluminação e a liberdade espiritual só surgem quando o egoísmo dentro de nós é voluntariamente abandonado ou quando ele entra em colapso. Em geral, o ser humano não faz renúncias por vontade própria. Quebra-se a couraça de vaidades, apegos e comodidade, e a luz divina renova a paisagem. A pessoa encara novamente a realidade total da vida como um processo precário e maravilhoso, que se renova a cada dia, mas sempre provisoriamente. A fragilidade da vida física e de todas as suas rotinas mostra-nos, então, que a vida é fundamentalmente espiritual e só secundariamente precária e material. Descobrimos que há uma vida maior interior, completamente independente da maré inconstante das incertezas humanas.

Não é fácil lidar na vida prática com certas experiências de iluminação. As imagens e sensações que ela desperta no cérebro físico e no sistema emocional podem ser enganosas e desestruturadoras. O processo de adaptação da vida diária da pessoa, em função das novas percepções espirituais, deve ser encaminhado com cautela e gradualmente. A energia da transcendência pode ser um furacão e deve ser compensada pelo bom senso, pela paciência, tolerância e perseverança. A decisão de mudar nossa vida no sentido espiritual deve ser testada na prática ao longo do tempo. A luz deve aumentar aos poucos em nossa vida, para que não fiquemos ofuscados.

Há ocasiões em que uma crise pessoal traz a iluminação e produz uma visão mais ampla da vida. Mas em outros casos é a iluminação que traz uma crise ou mudança súbita. Milhares de pessoas não conseguem administrar corretamente o surgimento da energia do sagrado em suas vidas. Muitas reprimem o contato com a luz espiritual, por medo do desconhecido. Outras fazem isso porque pensam que são incapazes de mudar suas vidas e ser coerentes com o ideal que a intuição mostra. A iluminação é um barco frágil. Se o remador não for hábil, a luz naufraga nas ondas do mar de emoções e pensamentos.
Procure sempre inclinar-se não ao mais fácil, mas ao mais difícil. Não ao mais saboroso, mas ao mais insípido. Não ao mais agradável, mas ao mais desagradável. Não ao descanso, mas ao trabalho. Não ao consolo, mas à desolação. Não ao mais, mas ao menos. Não ao mais alto e precioso, mas ao mais baixo e desprezível. Não a querer algo, e sim a nada querer. 

Adriana Mello