BREVE HISTÓRIA DO CINEMA MUNDIAL - Por Nelson Barboza - outubro 2013



BREVE HISTÓRIA DO CINEMA MUNDIAL
Capítulo 1 – Estados Unidos da América – Parte 14

A história dos mais destacados filmes dos EUA a partir da década de 1950, devido ao seu grande acervo, poderá ser vista em meu e-book, à venda na amazon.com.br: CINEMA - ARTE, CULTURA, HISTÓRIA.
Veremos, agora, a história das famosas fitas em série dos anos 1930/1950.

O CINEMA DIVIDIDO – PRIMEIRO EPISÓDIO

Houve uma época em que tínhamos de esperar uma semana para saber o que poderia ter acontecido ao herói (ou heroína) do filme: foi no tempo dos grandes seriados (também chamados de fitas em série) que eram divididos em 10, 12, 15 episódios, ou mais, contando as variadas aventuras de um mesmo personagem. Eram, no mínimo, cinco semanas de comparecimento contínuo ao cinema (muito exibidor passava dois episódios de cada vez).
Ficávamos ansiosos para saber como o herói iria livrar-se das inúmeras armadilhas em que caía ou de situações extremas que julgávamos impossíveis de serem solucionadas. Por exemplo: no final de um episódio, o herói, que estava de motocicleta, errou a curva da estrada e pairou no ar. 

Pensamos logo: “Desta vez ele não escapa!”. Imagem congelada, nós éramos convidados, de forma sensacionalista, a ver a continuação na próxima semana. Claro está que comparecíamos em massa. Como, a exemplo das histórias em quadrinhos em que eram inspiradas, as tramas não primavam pela verossimilhança, acontece o inusitado: ainda sentado na moto, o prevenidíssimo personagem abre um compartimento do veículo e sai um lindo e maravilhoso paraquedas que o conduz são e salvo até o chão. A coisa funcionava assim... O Homem-Foguete andava com foguetes presos às costas e nunca queimou a traseira... O Zorro (em Zorro rides again, 1937) estava com o pé preso nos trilhos e o trem já ia esmagá-lo; no episódio seguinte, ele dá uma chicotada no mecanismo que altera a direção e o trem segue por outra linha... E por aí vai. Os efeitos especiais (ou, em alguns casos, “defeitos especiais”) eram primários e algumas situações até ingênuas. E os cinemas? Com cadeiras de madeira, sem estofamento. Ar condicionado? Só o que passava pelas portas enormes, abertas somente à noite; mas havia aqueles que tinham cerca de 20 metros de pé-direito (altura), o que amenizava um pouco o ambiente; som? Era mono; os nomes dos filmes que estavam passando eram pintados à mão nos vidros ou espelhos; o rolo que acabava de ser exibido saía para outro cinema que iria exibir aquele mesmo episódio, logo em seguida, no mesmo dia; na semana seguinte, ia para os subúrbios. E ainda tinha o “lanterninha”, indivíduo encarregado de manter a ordem e o silêncio dentro do salão de projeção. Era o tempo do cinema lascado. 

Mas era divertido, pois não havia TV na época e a telenovela ainda não arrebatava o povão, como hoje em dia. Os seriados já existiam desde a época do cinema mudo, mas nos ocuparemos, apenas, dos sonoros, que atingiram o seu ápice nos anos 1930 e 1940, indo até meados dos anos 1950. Há divergências em relação ao primeiro seriado sonoro: a Universal Films afirmou que seria The ace of Scotland Yard (1929), dirigido por Ray Taylor e James Horne, mas alguns historiadores optam por A caixa sagrada (The jade box, 1930), também dirigido por Taylor. Por outro lado, Tarzan, o tigre (1930), dirigido por Henry MacRae, com Frank Merril (Tarzan) e Natalie Kingston (Jane), já utilizava o som. Como eram seriados com duas versões, a muda e a sonora, que variavam conforme os recursos das salas de projeção, The spell of the circus (1930), dirigido por Robert F. Hill, torna-se candidato à primazia, por ser, segundo alguns, o primeiro a ter som em toda a trama, embora ainda sofresse a influência da fase muda e com qualidade técnica até inferior. Mas (sempre há um “mas”) historiadores bem embasados afirmam que A voz do trovão (Voice from the sky, 1930), dirigido por Ben F. Wilson é o primeiro totalmente sonoro. Está aberta a polêmica. Vamos em frente. 

Passada essa confusa fase inicial, o uso do som logo se afirmaria como um poderoso recurso para evidenciar o medo e o suspense, uma característica dos filmes de mistério. Dentro das limitações técnicas inerentes à época, grandes filmes foram produzidos e, na opinião de Waldir Mendes Ribeiro, morador do Rio de Janeiro, um dos maiores colecionadores (e grande conhecedor) de seriados, (a quem agradecemos algumas preciosas dicas para a produção deste trabalho), os melhores são:

1 – O homem-de-aço (Adventures of Captain Marvel, 1941);
2 – O terror dos espiões (Spy smasher, 1942);
3 – Os perigos de Nyoka (Perils of Nyoka, 1942);
4 – Aranha mortal (The black widow, 1947;
5 – Agente federal 99 (Federal operator 99, 1945).
Outros, entretanto, também poderiam ser citados, pois são possuidores de qualidades apreciáveis para os fãs do gênero.
Aguarde o próximo “episódio”, em nosso jornal de novembro.